terça-feira, 11 de novembro de 2008

O MUNDO... PRÉ E PÓS TORRE EIFFEL



A sensação destrói a noção, mas entra no ritmo da imaginação, acelera-o, precipita-o. (ARGAN, 1988, p.431)


Pintura de Delaunay


Dentre alguns acontecimentos que marcaram a transformação do século XIX estão as Exposições Universais. Estas se constituíam de ambientes projetados e executados para abrigar uma feira de produtos industriais, sua arquitetura tentava, muitas vezes, utilizar dos materiais industrializados, que eram, em sua maior parte, o ferro e o vidro.


A França se fez sede de tais Exposições por alguns anos, e quando não hospedava-a, arquitetos franceses concorriam às exposições em outros países, desta forma, a França sempre estava presente.


Dentre todas as Exposições a mais marcante foi a de 1889, em comemoração ao centenário da tomada da Bastilha, quando foi entregue a obra da Torre Eiffel. Seu projeto é de 1885, sendo que a construção iniciou-se por volta de 1886-1887, e concluiu em 1889, tendo um período total de quatro anos.


Todas as construções marcaram a sociedade, causavam reações diversas, e, no geral, sempre assustavam, pois tudo era muito novo, mas foi a construção da Torre Eiffel que causou maior desconforto e admiração na população parisiense.


Geradora de muita polêmica, no entanto a Torre é um dos poucos pavilhões construídos para abrigar exposições, que não foi demolido. A Torre Eiffel é hoje o marco de Paris, indo mais longe: o símbolo da França; e isso tudo não se deu por acaso. A história mostra as divergências que o processo de criação e execução da Torre causou.

ANTECEDENTES À TORRE: EXPOSIÇÕES UNIVERSAIS DO SÉCULO XIX





O olho habituar-se-á pouco-a-pouco a essas perspectivas gigantescas; inicialmente surpreso, terminará admirando tudo. É a visão do grande. (PARVILLE, 1889, p. 62)



Projeção Torre Eiffel


As Exposições Universais surgiram com o intuito de mostrar ao mundo o que estava sendo produzido pela nova tecnologia. Estas eram as vitrines dasrelações que se estabeleceram entre produtores, comerciantes e consumidores.


Devido às barreiras alfandegárias existentes na época, as Exposições mantinham um caráter nacional, com exceção da Inglaterra, que comercializava os produtos anunciados nas feiras, por ter isenção alfandegária. Após 1850, a França passa a ter maior mobilidade alfandegária, se tornando a pioneira de um movimento que tornou as Exposições Universais.



Instalação do grande balão de Giffard na Exposição Universal de Paris, 1867


Londres foi a primeira a sediar as Exposições de caráter universal, em 1851, quando é realizado um concurso internacional, para a escolha do projeto para o pavilhão da Exposição. Nesta feita participaram 245 competidores, sendo 27 franceses. Nota-se que a França sempre se mostrou inteirada dos acontecimentos referente às mudanças que estavam ocorrendo no mundo.



Palácio de Cristal, em Londres, 1851


A Primeira Exposição Universal Francesa aconteceu em 1855. O projeto era para uma grande construção em ferro e vidro. Entretanto, a indústria francesa não estava apta a responder à esse tipo de construção como a inglesa, então revestiu o edifício com alvenaria, limitando o ferro apenas à cobertura da sala.


Em 1867 é organizada a Segunda Exposição Universal de Paris, a qual ocorre no Campo de Marte, em um edifício provisório de forma oval. Sustentada por arcos metálicos e pilastras que se prolongam até o exterior e se ligam com vigas por cima da abóboda envidraçada, com um vão de 35 metros, foi denominada “Galerie dês Machines”.


Apenas 11 anos mais tarde, em 1878, que a França pôde hospedar novamente uma Exposição Universal, isso devido aos acontecimentos da Guerra Civil e da Comuna. A construção dessa Terceira Exposição de Paris são dois grandes edifícios: um provisório, também no Campo de Marte e outro, permanente, do outro lado do Sena.


O edifício provisório não é associado à construção em alvenaria, sendo sua fachada construída com cerâmica multicolorida, e possui um aspecto de bastante vivacidade, embora esteja carregada de decorações ecléticas. Já o permanente é, necessariamente, associado com uma estrutura em alvenaria e emprega-se ferro somente para a cobertura, sendo as demais partes também recobertas de decoraçãoeclética.


Mesmo nesses casos, que não ultrapassavam os limites tecnológicos já existentes e mostrados por outros países, as construções do século XIX eramduramente criticadas como escreve Kaempfen (1867, p. 2007):

“Palácio? Será o nome a ser dado a esta vasta construção que encerra em seu perímetro os mais numerosos produtos da arte e da indústria jamais reunidos em um só local? Não, se essa palavra implica necessariamente a idéia de beleza, de elegância e de majestade. Não é bela, nem elegante, nem mesmo grandiosa, essa enorme massa de ferro e tijolos, cujo conjunto o olhar não consegue abranger; é pesada, baixa, vulgar. Porém, se é suficiente que um edifício, mesmo destituído de tudo aquilo, contenha incalculáveis riquezas, então por certo é um palácio esse estranho objeto, que não tem precedentes na arquitetura.”


Palácio de Cristal


Mas, é em 1889, que a mais importante de todas essas Exposições do século XIX acontece. Comemorando o centenário da tomada da Bastilha, também é organizada no Campo de Marte e compreende um conjunto de edifícios que se comunicam: um Palácio com planta em U, a Galeria das Máquinas e a torre de 300 metros.


Vista aérea da Expoisção de 1889



O Palácio projetado por J. Formigé (1845-1926) é uma obra pesada e complicada, com uma cúpula sobrecarregada de ornamentos; mas a Galerie e a Torre, se bem que carregadas de decorações nem sempre felizes, são as marcantes dentre as construídas até então em ferro, e, por suas dimensões, colocam também novos problemas arquitetônicos. (BENEVOLO, 1976, p. 140)



A Galerie dês Machines é projetada por Ch. L. F. Dutert. Sua vastidão faz com que “o olhar não julga mais o conjunto da sala como um vão fechado, mas sim como um ambiente ilimitado, definido por um ritmo recorrente a perder de vista, como as ruas de Haussmann”, como define Benevollo (1976, p. 144).


Por fim, fica à Gustave Eiffel título de genialidade por desenvolver a Torre. Entretanto, o mesmo conta com dois engenheiros empregados em sua empresa: Nouguier e Koechlin; enquanto que o arquitetônico fica na responsabilidade de Sauvestre.


Caricatura de Gustavel Eiffel


As construções em ferro parecem agora ter chegado ao vértice de suas possibilidades. Depois de 1889, a obra mais importante é a cúpula para a Exposição de Lyon em 1894, com um diâmetro de 110 metros. Progride, por outro lado, rapidamente, nos últimos dois decênios do século, o novo sistema de edificação, o concreto armado, que invade rapidamente o campo da edificação comum, graças a sua conveniência econômica, sobretudo após a publicação dos regulamentos. O crescimento extremamente rápido das cidades, especialmente nos países que somente agora se industrializam, como a Alemanha, demanda da indústria de construção um esforço extraordinário que exige uma revisão completa dos métodos de construção antigos. (BENEVOLO, 1976, p. 148)

A TORRE




O projeto da Torre seria escolhido em um concurso, do qual concorreram setecentos projetos de cento e sete autores. Em março de 1885, Eiffel exibiu o projeto à Sociedade dos Engenheiros Civis. Assim, quando o ministro do Comércio, Eduard Leckroy, abriu a conferência para a escolha da torre, o texto deixava claro qual tinha sido a “fonte de inspiração”: Sugerimos que se pense na alternativa de projetar uma torre de ferro de 300 metros de altura, com quatro pilares de base, que forme um quadrado de 125 metros de lado. Em julho do mesmo ano, o projeto de Eiffel tinha sido o escolhido.

O vento era uma das principais preocupações do engenheiro. A torre é desenhada de maneira que resista a rajadas de até 250 quilômetros por hora, uma novidade para a construção civil nacional da época. Além do vento, também o sol influi na dança porque a face da torre diretamente exposta ao calor dos seus raios se dilata mais depressa, fazendo o conjunto se inclinar levemente na direção oposta. Hoje, um monitor de TV instalado no primeiro andar mostra aos visitantes como a torre oscila lá em cima através de um sistema de visualização por infravermelho.


Para sustentar os quatro pilares e dar maior estabilidade à torre, foi necessário remover 30 mil metros cúbicos de lodo, argila e terra dos solos do Campo de Marte. Eiffel utilizou caixas de ar comprimido que eram progressivamente empurradas até alcançar a profundidade ideal e depois preenchidas com cimento, as quais serviriam de fundação para a torre.


Construção da Torre Eiffel


A maior dificuldade era atingir o primeiro andar, que se iniciou em 1887, sendo que a partir dali a estrutura básica estaria montada. Seu desafio seguinte era a altura. Como não existiam guindastes capazes de içar peças a tamanha elevação, o engenheiro recorreu a um sistema inovador que, depois de imaginado, parece óbvio: a própria torre sustentaria quatro gruas a vapor para transportar as vigas. À medida que a construção subisse as roldanas das gruas também seriam deslocadas para andares superiores. Quatro meses depois, alcançou-se o segundo andar.


Após a finalização da Torre Eiffel, ainda havia uma preocupação: o limite de vinte anos de existência da torre. Era preciso, então, torná-la útil para garantir a não demolição. Eugène Ducreter, em 1898, obtivera licença para instalar uma antena de transmissão de telégrafo sem fio no topo da torre, foi então que as possibilidades de sobrevivência da torre começara a surgir. No fim de 1903 o Exército utilizou-se da torre para a instalação de equipamentos necessários para a telegrafia militar. E, sendo tida como ponto estratégico de visualização, pois proporcionava uma visão de 360 graus a uma distância de quase toda Paris, foi fechada aos civis nas duas guerras mundiais, ficando de uso exclusivo do exército francês.


Torre Eiffel


Desde então, continua a servir como ponto de apoio para sistemas de comunicação, na emissão de imagens, consegue receber e transmitir sinais de televisão e rádio FM.


Hoje, a majestosa construção permanece como uma das maiores atrações turísticas do mundo, visitada anualmente por cerca de quatro milhões de pessoas.


INQUIETAÇÕES QUE A TORRE CAUSOU NA SOCIEDADE PARISIENSE


“Bem firmadas sobre pernas arqueadas, sólidas, enorme, monstruosas, brutal, dir-se-ia que desprezando os assovios e os aplausos, ela vai de um só golpe procurar, desafiar o céu sem ocupar-se com aquilo que se agita a seus pés!” (ILLUSTRATA, 1889, p. 18)



Estrutura da Torre Eiffel

Diante de tamanhas modificações a sociedade parisiense reagiu de diversas formas. Os mais intelectualizados se assustaram, foram contra, manifestaram; em contrapartida tiveram aqueles que se entusiasmaram, se admiraram, se impressionaram.


Antes mesmo do início das obras começaram as manifestações. Uma carta foi escrita e assinada por artistas e literatos, entre eles estavam: Meissonnier, Grounod, Garnier, Sardou, Bonnat, Coppée, Leconte de Lisle, Sully-Prudomme, Maupassant, Zola. A mesma, aberta a Alphand, comissário da Exposição, protestava publicamente contra a construção da torre:


Pintura de Delaunay



Nós, escritores, pintores, escultores, arquitetos, apaixonados amantes da beleza de Paris, até agora intacta, protestamos com todas as nossas forças, em nome do gosto francês renegado, contra a construção, em pleno coração de nossa capital, da inútil e monstruosa Torre Eiffel, que a maldade pública, freqüentemente inspirada pelo bom senso e pelo espírito de justiça, já batizou com o nome de Torre de Babel. A cidade de Paris irá associar-se mais uma vez à barroca, à mercantil imaginação de uma construção (ou de um construtor) de máquinas, para enfear-se irremediavelmente e para desonrar-se? Porque a Torre Eiffel, que não desejaria para si mesmo a comercial América, é a desonra de Paris, não tenham dúvida. É necessário, a fim de perceber aquilo que estamos entrevendo, imaginar por um instante uma torre vertiginosa e ridícula que domine Paris como uma gigantesca e escura chaminé de fábrica, todos os nossos monumentos humilhados, toda a nossa arquitetura diminuída, até desaparecer neste sonho chocante. E, por vinte anos, veremos alongar-se como uma mancha de tinta, a sombra odiosa da odiosa coluna de ferro cheia de rebites. A vós, Senhor e caro compatriota, a vós que tanto amais Paris, que a haveis embelezado, cabe a honra de defendê-la ainda. E, se nosso grito de alarme não for entendido, se nossas razões não forem ouvidas, se Paris obstinar-se na idéia de desonrar Paris, ao menos teremos, vós e nós, feito ouvir um protesto honroso.


Compreende-se que a manifestação dos intelectuais seja de fato honrosa, pois a Torre seria, como é atualmente, um marco de Paris. Nota-se sua expressão pelo o que ela representa hoje, não se enxerga Paris sem a Torre Eiffel. E todos esses acontecimentos grandiosos, conseqüentes da industrialização, causam desconforto, pois além das mudanças visuais, na arquitetura, urbanismo e formas comerciais, também modifica a cultura, os costumes da sociedade.


Tal protesto não abalou a decisão de concretizar a torre de ferro. Benevolo (1976) diz que o ministro Lockroy, em resposta à carta dos artistas, sustentava em 1887 que a torre modificaria somente a paisagem insignificante do Campo de Marte, mas estava errado. A altura excepcional e a linha ininterrupta do pináculo entre a segunda e a terceira plataforma fazem, isso sim, que a presença da torre seja percebida de quase todos os cantos de Paris e entre em relação não mais, como um edifício antigo, com um ambiente definido governado por uma perspectiva unitária, mas sim com toda a cidade e de modo sempre mutável. Como na Galerie dês Machines, as dimensões inusitadas fazem mudar o significado da arquitetura e conferem-lhe uma qualidade dinâmica que força a considerá-la sob uma qualidade mesmo se o projeto em si respeite as regras da perspectiva tradicional. Eiffel continuou seu trabalho junto à sua equipe. A perfeição do trabalho entusiasmou tanto os franceses que alguns deles se dispuseram a escalar 345 degraus, o equivalente a dezenove andares de um prédio, até uma barraca improvisada onde o exigente Eiffel e sua equipe festejavam a proeza.


Entretanto, os trabalhadores, submetidos à construção acelerada, eram também submetidos a salários insignificantes, refeições a preço módico e, talvez motivados pela inquietação do final do trabalho, o que causou, em setembro de 1888, uma greve por melhores salários. Quatro dias parados e as reivindicações foram atendidas. Para Eiffel valia a pena pagar a diferença para não perder a batalha contra o tempo. Pouco mais tarde, outra greve eclodia. Dessa vez, porém, Eiffel foi inflexível: não só não aumentou os salários como também puniu de maneira peculiar os líderes do movimento, confinando-os ao primeiro andar - um humilhante rebaixamento para quem construía a grande obra de engenharia do século. O que deixa claro o quanto a altura era o que mais importava, determinando até o nível dos operários e como os empreendedores envolvidos na idealização da Torre eram ambiciosos e descartavam as condições de trabalho que os operários eram submetidos, as manifestações dos próprios trabalhadores e da sociedade.


Mas tamanha tecnologia, tanto nos matérias, como na forma de execução da obra deixou o mundo curioso e impressionado com tamanha “modernidade”. As obras logo viraram uma grande atração: parisienses, franceses de outras cidades e até estrangeiros vinham todos contemplar a gigantesca armação em ferro.


Quando a torre é terminada, em 1889, muitas posturas são modificadas. As contrárias se tornam favoráveis; as radicais, flexíveis; mas no conjunto, baseando no que a imprensa da época expôs, a opinião pública se fez favorável:


Face ao fato – e que fato! – concretizado, é preciso inclinar-se. Também eu, como muitos, disse e acreditei que a Torre Eiffel fosse uma loucura, porém é uma loucura grande e orgulhosa. É certo que essa massa imensa esmaga o resto da Exposição e, quando se sai do Campo de Marte, as cúpulas e galerias gigantescas parecem pequenas. Mas o que querem? A Torre Eiffel impõe-se à imaginação, é algo de inesperado, de fantástico, que lisonjeia nossa pequenez. Quando havia sido apenas começada, os mais célebres artistas e literatos, de Meissonnier à Zola, assinaram um ardente protesto contra a torre, como sendo um delírio de lesa-arte; assiná-lo-iam agora? Não, por certo, e gostariam que aquele documento de sua cólera não existisse. Quanto às massas populares, quanto à boa burguesia, seu sentimento se resume numa frase pronunciada por um cidadão honesto, depois de haver ficado cinco minutos de boca aberta diante da torre: Enfoncée l´Europe! (FOCHETTO, 1889, p. 7)


Pintura de Delaunay


No Journal dos Goncourt, ainda há matérias de literários que se mantêm contra a Torre Eiffel:



A Torre Eiffel faz-me pensar que os monumentos em ferro não são monumentos que conheceu a madeira e a pedra para construir seus refúgios. Depois, nos monumentos em ferro, as superfícies planas são assustadoras: veja-se a primeira plataforma da Torre Eiffel, com aquela fila de duplas guaritas: não se pode imaginar nada de mais feio para o olhar de um velho civilizado!


Benévolo afirma que o juízo dos contemporâneos é dominado pela impressão da novidade; o nosso é muito diverso, e deve, antes de tudo, libertar-se do véu do hábito que nos tornou por demais familiar a imagem da torre.


Delaunay retrata as agressões que a sociedade sofreu diante da torre. Ele mostra em seu quadro como a torre se exaltou diante das construções vizinhas. Mas, segundo Argan (1988), o artista não parte da observação direta, analítica, do objeto: opera sempre sobre uma imagem espacial que lhe é conhecida e familiar. O espaço que o interessa é o da cidade, e a cidade naturalmente é Paris, e o símbolo visível de Paris, a tônica e seu espaço urbanos, é a Torre Eiffel.


O filósofo G. Bachelard demonstra que a casa e a cidade, sendo o lugar onde crescemos e vivemos, são fundamentais nas nossas percepções do espaço. “Todos trazemos em nós, sem nos darmos conta, o sentido do espaço da cidade onde vivemos: suas amplitudes, suas dinâmicas, seus percursos, seu ar, sua luz, sua cor, as coisas que a preenchem”. Fica claro que as transformações causadas pela implantação da Torre Eiffel seriam de âmbito psicológico. A sociedade modificaria sua percepção de dimensão, grandeza, espaço. Agora a horizontalidade ficaria para outro plano e a verticalidade ganharia espaço. São justificáveis as reaçõesdos indivíduos diante de tamanha grandeza, por mais bela e representativa que a Torre nos pareça hoje, na época da sua execução os olhos dos homens não estavam “preparados” para tamanha construção.


Pintura de Delaunay



Neste quadro a Tour Eiffel projeta-se no ar abalando as casas que se aglomeram ao seu redor, destaca-se da Paris, como um míssil que se separa de sua rampa e parte para o espaço. Observe-se: o quadro não é cromaticamente intenso, seu tom de fundo é cinza. É a imagem indefinida e incolor, a qual traz o parisiense dentro de si, que de súbito materializa-se e acende-se. Então, entendem-se quais e quantos significados tinha essa imagem interior: a Tour Eiffel está como que enraizada no húmus urbano de Paris, e eis que vemos suas raízes lançadas às casas vizinhas, domina sobre a cidade inclinando-se sobre os telhados das casas; arremete ao céu, e ei-la entre as nuvens, que espocam à sua volta como granadas antiaéreas, confere à cidade um impulso ascendente, vêem-se as casas burguesas projetando-se no céu. Tudo é percebido com extrema clareza, percepção e fantasia, lançadas na mesma trajetória, percorrem o mesmo caminho. (ARGAN, 1988, p.433)

CONSIDERAÇÕES FINAIS


A obra em si é incerta e falha, não somente pelas superestruturas decorativas, que foram parcialmente eliminadas em 1937, mas também pela descontinuidade do desenho geral. (ARGAN, 1988, p. 146)


A Torre neutralizava as outras construções. Não precisa-se estar perto da Torre para admirá-la, ela se mostra de longe, desviando a atenção das outras obras parisiense. À princípio, essa dimensão da torre assusta, choca. Para alguns, a presença da torre era tão desconfortante que diziam ser o restaurante da própria Torre Eiffel, o melhor lugar a se freqüentar em Paris, pois de lá era o único ponto da cidade que não se conseguia visualizá-la.

Hoje é tomada por admiradores, todos que vão à Paris não deixam de visitá-la. No entanto, esse caráter de apagar as outras construções continua. A Torre Eiffel ainda marca mais que qualquer outra construção parisiense. Que ela já deixou de ser a edificação mais alta, não há dúvidas, mas mesmo com os atuais arranha-céus, a torre continua sendo referência.

É raro encontrar algum turista que realce a presença de outra edificação além da torre. Então, percebe-se que os manifestantes do passado não estavam totalmente sem a razão ao considerar que a Torre transformaria a cultura e os costumes da cidade, e porque não, da própria França.

Não se compreende, hoje, Paris sem a imagem da Torre Eiffel. Suas características e beleza única ainda a torna o marco da França.


Torre Eiffel


REFERÊNCIAS

ARGAN, G.C. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras,1988.431p.

BENEVOLO, L. História da Arquitetura Moderna. São Paulo, 1976. 129p.